BRASÍLIA E SÃO PAULO – As condições climáticas estão entre as hipóteses mais fortes para explicar a queda de um avião em Vinhedo, no interior paulista, nesta sexta-feira, 9. A queda da aeronave da companhia aérea Voepass, que partiu de Cascavel, no Paraná, para Guarulhos, região metropolitana de São Paulo, deixou 61 mortos. A empresa informou que não há sobreviventes entre os 57 passageiros e quatro tripulantes. É o acidente aéreo com maior número de vítimas desde 2007.
Imagens da queda do avião, que mostram a aeronave caindo em um giro vertical, posição chamada de “parafuso chato” no meio da aviação, é o principal indicativo de que o acidente ocorreu devido a uma perda de sustentação, o “estol”. Segundo especialistas, a perda de sustentação da aeronave pode estar associada à formação de gelo nas asas do avião, mas só a investigação será capaz de dar a resposta.
“Toda vez que cai assim é porque a asa perdeu a sustentação. Se os comandos não estivessem travados pelo gelo, ele poderia recuperar. Mas, mesmo assim, em uma queda nessa posição e dependendo do acúmulo de gelo, talvez até um piloto com muita experiência em acrobacia teria dificuldade em sair”, explica Laert Gouvêa, diretor do Instituto Brasileiro de Segurança na Aviação.
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Ele explica que o modelo ATR-72 voa em um nível intermediário de altura, o que facilita a formação de gelo sobretudo quando há frentes frias. Conforme o especialista, a formação de gelo ocorre em média a uma altura entre 14 mil pés e 24 mil pés.
“Já houve outros acidentes por causa de gelo com esse modelo de avião. Esse tipo de avião voa num nível mais propenso à formação de gelo. São níveis intermediários (de altura). Nesse nível, tem grãos de gelo muito grandes, isso tanto pode danificar o avião como pode formar um gelo que gruda na aeronave. Quando ele gruda no perfil da asa, ela perde a sustentação. Também pode grudar na hélice e fazer com que ela perca rendimento”, afirma Gouvêa.
Infelizmente acabou de acontecer….
— fernandopamplona (@fdpamplona) August 9, 2024
Acidente com passaredo em vinhedo pic.twitter.com/PCe7G6OySl
Segundo ele, o controle de voo estava alertando os pilotos nesta sexta-feira. “Hoje era um dia atípico com muita formação de gelo em função dessa frente fria de inverno, que é pior”, diz o especialista.
Gouvêa destaca que os aviões têm um sistema para fazer um degelo quando há condições adversas, mas em alguns casos a formação é tão grande que o sistema pode não dar conta. Uma das opções é o piloto alterar o nível de altura em que trafega para evitar exposição a essas massas polares. Ele destaca que é preciso esperar a conclusão das investigações para que a causa da queda seja determinada.
Especialista em segurança de voo com mais de 40 anos de atuação na área, Roberto Peterka não tem dúvida de que o ATR-72-500 da Voepass estolou. “E entrou em parafuso chato e veio até o chão. A imagem deixa claro isso”, diz. “Ele (o piloto) só sairia do parafuso chato se ele conseguisse mudar o centro de gravidade, mas em uma aeronave dessa não dá tempo de mandar os passageiros todos irem para frente. Com a recuperação das duas caixas-pretas, essa dinâmica toda deve ficar clara”, acrescenta.
Consultor em segurança aérea e criador do canal do YouTube Aviões e Músicas, Lito Sousa explica no caso de haver gelo nas asas do avião algumas manobras podem ser feitas pelo piloto.
“Mesmo que o sistema esteja inoperante, o piloto tem que tomar algumas atitudes como descer o avião em alta velocidade, porque quando você desce a temperatura do ar nas camadas mais baixas aumenta e o gelo vai sair da asa. Assim como outras funções operacionais que o piloto tem que tomar”, afirma.