Após seu destaque em ‘Travessia’, na Globo, ela está nos palcos com a peça “Era Medeia”. Nesta entrevista, a atriz fala da mulher potente que vem se tornando, do projeto teatral que se conecta com o que acredita, e destaca a importância do Outubro Rosa e da prevenção de forma geral na luta contra o câncer, fazendo para isso, um relato íntimo. “Venho de uma família com reincidência de câncer em todas as gerações. Meu avô paterno morreu de câncer de pulmão aos 42 anos, minha avó paterna teve um câncer de intestino, tenho primos que morreram em decorrência de leucemias com 15 e 28 anos, e estou com um tio agora em fase terminal da doença. A sombra do câncer é algo que muito me visita de uma certa forma. Então, acredito que é muito importante destacar a importância da prevenção, porque essa doença atinge mulheres em situações e histórias muito diversas. Tenho 34 anos, mas durante a pandemia tive uma alteração nos exames e por já ter um histórico familiar, precisei fazer uma colonoscopia, que não é indicada para mulheres da minha idade. Acabei retirando três pólipos preventivamente.
Por Brunna Condini
Mesmo não tendo sida afetada pessoalmente pelo câncer, Isabelle Nassar faz questão de participar de movimentos neste Outubro Rosa que esclareçam sobre a prevenção do câncer de mama e da importância do diagnóstico precoce. Por conta do seu histórico familiar com a doença, nesta entrevista a atriz frisa que a descoberta de qualquer tipo de câncer no início, pode aumentar a chance de cura e de qualidade de vida. “Venho de uma família com reincidência de câncer em todas as gerações. Meu avô paterno morreu de câncer de pulmão aos 42 anos, minha avó paterna teve um câncer de intestino, tenho primos que morreram em decorrência de leucemias com 15 e 28 anos, e estou com um tio agora em fase terminal da doença. A sombra do câncer é algo que muito me visita de uma certa forma. Então, acredito que é muito relevante destacar a importância da prevenção, porque essa doença atinge mulheres em situações e histórias muito diversas, nosso Brasil recorta por realidades muito distintas”.
E alerta. “Tenho 34 anos, mas durante a pandemia tive uma alteração nos exames e por já ter um histórico familiar, precisei fazer uma colonoscopia, que não é indicada para mulheres da minha idade. Acabei retirando três pólipos preventivamente. Precisamos ter a medicina como nossa parceira em todos os aspectos. Um diagnóstico não é uma sentença de morte. Falar sobre o assunto ainda é muito necessário”, completa Isabelle, que se prepara para voltar ao teatro com o espetáculo ‘Era Medeia’ , ao lado de Eduardo Hoffmann, no próximo dia 24, no palco do Centro Cultural da Justiça Federal, no Centro do Rio.
A atriz e os caminhos de expressão
Após fazer ‘Travessia‘, sua primeira novela e estar dentro de uma das tramas principais com a personagem Sara, a atriz celebra o retorno de ‘Era Medeia‘, montagem que realizou pela primeira vez em 2019:
Faço teatro para olhar para aquilo que precisa ser visto. É muito difícil fazer teatro hoje no Brasil. Estou com uma peça em cartaz sem patrocínio, estamos fazendo uma ocupação, não sabemos se vai ter público. Aí fico pensando em qual o sentido disso tudo e chego à conclusão que é gerar diálogo, mudar a contracultura, trazer entretenimento, gerar reflexão…nossa, tem muitos porquês. Ser criticada ou não, abrir espaços de fala ou não, mas mudar os paradigmas diários, por isso sou atriz
Sobre a experiência em novelas, Isabelle diz: “Amei fazer, tirei de letra, já quero fazer outra. Me convidem! (risos). Estou a serviço, onde meu corpo e minha alma puderem somar, lá estarei. Vou fazer a peça, acabei de filmar em longa em Porto Alegre e estou terminado o meu livro de poesias. E tem um desejo, que é o de ter um programa para debatermos sobre nossa diversidade, a pluralidade de crenças, de pensamentos, de vidas. Acho que falta diálogo hoje ainda. Somos muito diferentes e muito parecidos em nossas questões”.
Ela busca no teatro colocar em cena trabalhos que dialoguem com o feminino e o seu tempo: ‘Era Medéia’ se passa durante os ensaios de uma adaptação da tragédia ‘Medeia‘, de Eurípedes, pano de fundo para uma discussão que também escancara o machismo, abuso de poder, a exposição da vida privada e a importância do processo na criação artística. “Também abordamos o inacabado, as coisas que não deram certo, o lugar do artista no mercado. Medéia é um ícone da representação de uma mulher que rompe com os padrões sociais estabelecidos. Apesar de tomar atitudes cruéis e contraditórias, é uma personagem que não fica à mercê das decisões e escolhas dos homens à sua volta. Diferente de outras tragédias, ela não fica refém do próprio destino”, esclarece.
A beleza de ser plural
Consciente das tentativas de aprisionamento das mulheres em padrões definidos ao longo da história, Isabelle diz que já sentiu essa pressão estética na pele. Apesar de ter sido modelo na adolescência, ela lembra que já pensou em fazer cirurgias plásticas, porque sentia não se encaixar nos padrões da época. “Às vezes é doloroso uma sociedade olhar para mulher só pela aparência. Estamos aprendendo a lidar com a pluralidade do feminino e várias outras questões. Venho de família por parte de pai libanesa, por parte de mãe de baianos, negros. Nasci com essa mistura maravilhosa, que hoje enxergo como uma grande potência. Mas fui criada em uma cidadezinha do interior de Minas Gerais, onde as pessoas eram mais ‘iguais’, hoje pode ter até mais diversidade. E quando meus pais se separaram eu tinha 9 anos, fiquei sozinha com a minha mãe naquela cidade. Uma mulher que já era vanguardista, feminista, então sofríamos ali uma espécie de estranhamento, para não falar outra coisa”, recorda.
“O ser humano é ser de matilha, queremos nos encaixar, ser amados, aceitos, pertencer, nascemos para isso. Então nesta fase, eu só queria ser igual às pessoas, se para isso tivesse que mexer no nariz ou no queixo, estava considerando. Hoje olho para essa menina que quando recebia comentários negativos chorava no travesseiro, e digo que está tudo certo, chegamos até na novela das 21h! Vão falar da nossa aparência ainda, o que significa que a gente é, e todo mundo pode ser”.
Recebo muitos relatos de mulheres no meu Instagram que ainda são a Isabelle lá do passado, sabe? Que talvez não tenham tido o privilégio que tive de estudar, viajar, trabalhar. fiz muita terapia, estudei muita filosofia, respirei outras mulheres, que puderam me mostrar que as nossas diferenças são as nossas fortalezas – Isabelle Nassar
E finaliza, com sinceridade: “Mas apesar disso, me sinto deslocada até hoje quando recebo um ‘não’, quando nem consigo fazer um teste para um trabalho, quando não sou convidada para algo. Acredito que essa acaba sendo uma sensação de todas nós, buscando nos afirmar em algum momento. Estou fortalecendo essa mulher que vem surgindo em mim. E quando eu tiver 40, 50 anos, me vejo ainda mais potente. É um processo bonito”.