A cantora, com 26 anos de carreira, revela que está preparando um disco autoral, mas segue escrevendo e participando de projetos que giram em torno dos biomas brasileiros, colaborando com os povos indígenas. Nesta entrevista, ela comenta qual conselho daria a jovem Gadú do passado: “Não acredite quando dizem que só há aquele caminho. A indústria fonográfica ficou por muitos anos fazendo a gente ser refém. Ou assina aquele contrato abusivo (muitas vezes sem saber o que de fato estava se tratando), ou não tem disco, não tem sonho. Se você vem ainda de uma realidade pobre então, nossa. A indústria está te fazendo um ‘favor’ te ajudando. Me alertaria para não me sentir tão ignorante e prejudicada”
*por Rafah Moura
Nascida sobre o signo de escorpião, conhecido por ser naturalmente intenso, a primeira edição do PRIO Blues & Jazz Festival, na Marina da Glória, contou com uma performance visceral de Maria Gadú . “Nos divertimos muito e o repertório passeia na minha discografia e também por versões que fiz das canções que gosto”, comenta. A cantora com 24 anos de carreira e com 36 anos se vida, logo no inicio dessa conversa abre seu coração e conta que daria um conselho para a jovem Gadu, lá em 1999. “Não acredite quando dizem que só há aquele caminho. A indústria fonográfica ficou por muitos anos fazendo a gente ser refém. Ou assina aquele contrato abusivo (muitas vezes sem saber o que de fato estava se tratando), ou não tem disco, não tem sonho. Se você vem ainda de uma realidade pobre então, nossa. A indústria está te fazendo um ‘favor’ te ajudando. Me alertaria para não me sentir tão ignorante e prejudicada”.
Gadú tinha feito uma pausa dos palcos por conta de auxiliar a população indígena do Rio Negro e revela que conhecer a nossa história é uma arma poderosa. “Fiz uma pausa dos palcos para estudar. Venho estudando a História do Brasil há muitos anos e senti a necessidade de me empenhar mais. A luta dos povos indígenas é histórica e, para colaborar de alguma forma, o estudo e a vivência são importantes. Primeiro fui ao lado da ministra Sonia Guajajara conhecer aldeias pelo Brasil, depois junto a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, a APIB, e Mídia Indígena, segui colaborando nas ideias de divulgação da luta e das culturas. Passei uma temporada em Manaus também colaborando com os órgãos indígenas. É infinitamente necessário que o Brasil se veja como um país indígena. Sonia hoje traz para a luta ferramentas que antes não tínhamos”, frisa.
Fala se muito sobre essa rixa no mercado musical: gravadoras x streamings. Nós, aqui do Site Heloisa Tolipan acompanhamos os grandes nomes da indústria fonográfica como dominantes do mercado, e hoje os streamings tem esse protagonismo da cena. “Quando não existia o streaming, as gravadoras alegavam um custo altíssimo para fabricar os discos, hoje não mais. Mas ainda assim, elas mantém os royalties baixos que pagam aos artistas, gerando muito desconforto e indignação. A luta pela remuneração justa, tanto dos royalties por plays quanto pelos direitos autorais é longa e desgastante. Fazemos a arte, nos empenhamos, depositamos nela nosso tempo, trabalho, nossa história, nosso amor e a indústria se apodera de tudo como propriedade. Cansa”, desabafa a artista.
Durante esta entrevista repleta de aprendizados e afetos, falamos sobre projetos futuros e o que podemos esperar da artista. E Gadú revela que está preparando um disco autoral, mas ainda sem previsão de lançamento. “É um disco bonito e bem brasileiro. No mais, sigo escrevendo e participando de projetos que giram em torno dos biomas brasileiros, colaborando com os povos indígenas. Pretendo ainda girar com o show “Quem sabe isso quer dizer amor” por um tempo. Acabei de voltar aos palcos, o futuro ainda é agora”.