O que Kim Kardashian, Kelly Key, Ana Clara e Cameron Diaz têm em comum? As quatro artistas sofrem com psoríase, uma doença inflamatória da pele, crônica e com tendência a ocorrer durante toda a vida. Esta terça (29), é marcada pelo Dia Mundial da Psoríase, data que visa conscientizar sobre a condição.
“O principal objetivo dessa campanha é combater o estigma que a doença acarreta, esclarecer à população que a psoríase não é contagiosa e que possui tratamento”, diz Ricardo Romiti, médico dermatologista e coordenador da Campanha de Psoríase da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Recentemente, a apresentadora e ex-BBB Ana Clara Lima utilizou suas redes sociais para compartilhar um desabafo sobre seu diagnóstico de psoríase:
“Há cerca de três anos, fui diagnosticada com psoríase – uma doença autoimune que afeta a pele – e, em agosto de 2022, passei por um tratamento intensivo que atuava diretamente no meu sistema imunológico. Estava em uma fase muito difícil, com a psoríase fora de controle, o que afetava profundamente minha autoestima,” revelou Ana Clara.
Além dela, Kim Kardashian também revelou que sofre com a doença desde os 25 anos de idade: “Tive uma erupção de psoríase pelo corpo e desenvolvi artrite psoriática, então mal conseguia mexer as mãos. Cortei a carne vermelha novamente, e a condição se acalmou”, ela disse à revista Allure, explicando que o surto foi desencadeado pela sua dieta.
Como a psoríase se manifesta?
Segundo Ricardo, a psoríase se manifesta com frequência na fase de jovem adulto, geralmente entre os 20 e 35 anos de idade, mas também pode surgir em crianças.
Visualmente, a forma mais comum da doença manifesta-se com placas eritematosas (vermelhas e escamativas), que acometem principalmente o couro cabeludo, cotovelos, joelhos, costas e unhas. Em cerca de um terço dos pacientes, pode haver inflamação articular, o que os especialistas chamam de artrite psoriásica, que, se não tratada adequadamente, pode levar à deformidade.
A dermatologista Ana Carolina Sumam esclarece que a psoríase envolve uma hiperproliferação celular, que leva à formação das lesões escamativas características da doença: “Essa inflamação libera substâncias que aceleram a renovação celular da pele, gerando uma produção excessiva de queratina”, comenta.
A forma mais comum é a psoríase em placas, mas existem variações mais raras, como a psoríase pustulosa (quando as placas apresentam bolhas de pus) e a psoríase eritrodérmica (quando acomete o corpo todo).
De acordo com Ricardo, os fatores desencadeantes da psoríase são múltiplos, ou seja, vários fatores em conjunto contribuem para o surgimento da doença. Predisposição genética, infecções (por exemplo, infecção de garganta), uso de certas medicações, tempo frio ou mesmo estresse intenso.
Uma vez que a psoríase se desencadeia, ela se torna uma doença crônica, sem cura definitiva. “Atualmente, existem tratamentos muito eficazes para o manejo da psoríase, mas o acompanhamento médico é essencial, pois a condição tende a persistir ao longo da vida”, define o médico.
Além desses fatores, Ana Carolina destaca a obesidade, dislipidemia e síndrome metabólica: “Pacientes com psoríase devem buscar evitar fatores que agravam a condição, como o uso de álcool e cigarro, além de adotar um estilo de vida saudável.”
Quais os tratamentos?
Segundo Ricardo, o tratamento da psoríase depende principalmente da extensão do quadro: “A grande maioria dos pacientes, mais ou menos 70% a 80%, tem a forma mais leve da doença, só com algumas placas, geralmente nas regiões que falei: cotovelo, joelho ou couro cabeludo.”
Mas ele ressalta que essas lesões podem aparecer em qualquer parte do corpo, mas são de forma menos agressiva. Para esses casos, o tratamento é feito com produtos tópicos, como cremes, pomadas e loções com efeito anti-inflamatório na pele para regredir a inflamação da psoríase.
“Já naqueles quadros mais graves, mais extensos e disseminados pelo corpo, fica inviável serem tratados somente com tratamentos tópicos, a gente tem os tratamentos convencionais, que vão desde a fototerapia até medicações de urso oral”, diz Ricardo.
“O paciente pode ser submetido à radiação ultravioleta A para controlar a inflamação, promovendo uma melhora significativa nas lesões”, ressalta Ana Carolina.
Caso o paciente não responda ou tenha alguma contraindicação aos tratamentos convencionais, pode-se recorrer a tratamentos imunobiológicos, ou simplesmente biológicos. Esses são direcionados para uma inflamação específica e são muito eficazes para o tratamento das formas mais graves da doença.
Porém, o médico explica que esses tratamentos possuem custo mais elevado e, por isso, indicados para casos graves de psoríase e que não responderam aos tratamentos convencionais.
O paciente com psoríase pode ser submetido à radiação ultravioleta A para controlar a inflamação
Ana Carolina destaca a importância do tratamento precoce está em evitar a progressão da psoríase e realizar uma investigação abrangente de fatores associados, como síndrome metabólica e artrite psoriásica: “Monitorar colesterol, triglicerídeos, glicose e hiperinsulinemia é fundamental para controlar a doença e evitar lesões na pele e complicações como a psoríase eritrodérmica, que, em casos graves, pode exigir internação devido ao risco de infecções generalizadas.”
Além dos tratamentos médicos, a dermatologista recomenda algumas mudanças de hábitos:
- Praticar atividade física regularmente.
- Manter boas práticas de sono.
- Reduzir o estresse com atividades relaxantes.
- Diminuir o consumo de bebidas alcoólicas e evitar o tabagismo.
- Adotar uma alimentação saudável, com alimentos de baixo índice glicêmico.
- Procurar orientação de profissionais como nutricionistas, clínicos gerais e endocrinologistas para controlar riscos cardiovasculares.
A psoríase não é uma doença contagiosa
“Em relação ao comprometimento da qualidade de vida, a psoríase, como muitas outras doenças dermatológicas, é uma condição visível, o que pode gerar um grande estigma. Outras pessoas podem pensar que se trata de uma doença contagiosa e, muitas vezes, querer se afastando de quem tem essas lesões de pele”, diz o dermatologista.
É importante frisar que a psoríase é uma doença inflamatória da pele, mas não é infecciosa. Ou seja, não há nenhum risco de contágio para quem convive com uma pessoa que tem psoríase: “Muito pelo contrário, o que a pessoa com psoríase precisa é de amparo, para realmente se sentir querida e incluída no ambiente familiar, no ambiente de trabalho e no social.”
É importante frisar que a psoríase é uma doença inflamatória da pele, mas não é infecciosa
Além disso, a presença dessas lesões na pele, se não adequadamente diagnosticadas e tratadas, pode levar a quadros de ansiedade e depressão, e muitas vezes resulta em isolamento social pela vergonha que a pessoa pode sentir. Isso pode fazer com que ela evite usar shorts, saias, blusas de manga curta, ou até mesmo frequentar a praia, ou a piscina.
Para esses casos, o médico indica uma abordagem multidisciplinar. É importante o acompanhamento com um clínico geral, pois pacientes com psoríase podem apresentar o que chamamos de síndrome metabólica, que frequentemente inclui obesidade, hipertensão e diabetes.
“Além disso, o suporte psicológico e, em alguns casos, o acompanhamento com um psiquiatra podem ajudar muito o paciente a lidar com essa doença crônica.”
E, claro, o dermatologista, que é o médico indicado para o diagnóstico e o tratamento da psoríase: “Não só para fazer o diagnóstico mais preciso, mas também para, em comum acordo com o paciente, discutir as formas de tratamento para melhorar não só o bem-estar físico, mas também o bem-estar psíquico dos pacientes.”