Psicóloga e consultora, Karina Antunes fala sobre importância do protagonismo de corpos diversos na moda

Quem produz roupas e acessórios, seus fornecedores de matérias-primas, donos de lojas e  vendedores devem estar atentos sobre a mudança de mindset em relação ao corpo. Devem ter um olhar sem preconceitos e com mais empatia. Não pensar apenas no produto, mas nas pessoas que o usam. Isso faz a diferença. Fidelizar o cliente é uma importante chave para o crescimento”, diz a consultora de imagem que esteve à frente da palestra “Morfologia e proporção corporal para suporte como apoio na criação de coleções e nas vendas” durante o Maior Salão de Negócios da América Latina, promovido pela FIEMG, em Belo Horizonte.

Psicologia e Consultoria de Imagem dialogam e muito profundamente. “São aquelas profissões que foram feitas uma para a outra, que se completam. A psicologia com o estudo da imagem focado na personalidade e comportamento que o indivíduo tem de si e a consultoria, com um foco maior na imagem passada e percebida pelo outro”. Este é o ponto de vista da psicóloga e estrategista de imagem Karina Antunes, convidada para ministrar a palestra “Morfologia e proporção corporal para suporte como apoio na criação de coleções e nas vendas“, durante a 30ª edição do Minas Trend – Maior Salão de Negócios da América Latina -, promovida pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG). Karina é pós-graduada em consultoria guiada pela face através do Método Persoona School (facetelling). É especializada em imagem corporativa, autoimagem, imagem corporal e comportamento. “Destaco minha formação bodytelling, visando o conhecimento dos traços, perfis comportamentais, proporções corporais e morfologia corporal. Afinal toda experiência de imagem é vivenciado no corpo!”, pontua, acrescentando: “Atuo aplicando técnicas da psicologia comportamental (através  da psicologia da moda) à consultoria de imagem, a fim de atender com mais precisão as necessidades e questões trazidas pelos clientes, acolhendo e  promovendo autoestima”.

A partir da premissa “Vista-se com intenção“, Karina acredita que através do seu ofício possa “ensinar aos clientes como funciona o processo de construção da imagem e mostrar que ao ter intenção no vestir, ele tem autonomia para comunicar a imagem que desejar. Com enfoque na experiência do cliente, apresento o poder transformador do autoconhecimento na própria imagem”. Inclusive, o tema que orientou a palestra realizada no P7 Criativo, primeiro hub de inovação e economia criativa do país, no centro da capital mineira, parte do seguinte princípio: é preciso ter entendimento e consciência do nosso corpo e de sua morfologia. Assim, as pessoas conseguem construir um vestir mais preciso. E o mercado de moda precisa estar atento a este movimento e produzir produtos que sejam sinônimo de variedade e diversidade. “Isso permite trazer para o cliente maior confiança no processo do vestir por sentir seu corpo incluído nos processos de produção de moda”, afirma.

Nesta entrevista exclusiva, Karina conta sobre como nasceu o seu interesse pela Psicologia: “São 23 anos nesta área. É uma longa estrada na profissão, muitas histórias, e, muito estudo com enfoque no indivíduo, nos comportamentos humanos e todas as nuances da nossa mente. É sempre fascinante e uma grande descoberta a cada dia. Desde muito jovem fui uma pessoa comunicativa, criativa, apaixonada por estar com pessoas e ouvir suas histórias de vida, além de acolher suas dores e questões. E como qualquer indivíduo, vivi as dúvidas na hora de definir a primeira profissão. Fiz vestibular para Publicidade e Psicologia, passei para as duas careiras e, na hora da decisão, optei pela Psicologia por uma série de fatores, inclusive o que os meus amigos sempre me diziam, de que era pelo fato de me acharem centrada e bem resolvida. Tudo isso acabou tendo grande peso. Fazendo uma autoanálise, se me perguntarem sobre algum arrependimento hoje, ou alguma dúvida, digo do fundo do coração que já tive sim, mas hoje estou certa de que a Psicologia me trouxe oportunidades incríveis, além de uma maturidade e consciência para fazer boas escolhas e me levou inclusive ao caminho que sigo hoje, que é o da Consultoria de Imagem. E me permitiu realizar o sonho de atuar ao lado do mercado de Moda, algo que quando mais jovem não tive a oportunidade de experienciar”.

Karina Antunes estuda o encontro entre Psicologia e moda (Foto: Divulgação)

Durante a palestra, a consultora ressaltou a diversidade de corpos e como o varejo de moda em conjunto com a consultoria de imagem pode encontrar soluções na criação de produtos, peças de roupas para aplacar públicos tão esquecidos nas últimas décadas e assim aumentar as vendas. “Falei sobre morfologia corporal, biotipo, proporções corporais, body positive e aspectos biológicos, genéticos e de inclusão, bem como mudanças no olhar sobre o nosso corpo”, aponta. Outro ponto diz respeito aos padrões de beleza. “É necessário entender como eles influenciam o corpo, como isso afeta o “padrão” corporal e dita o comportamento de moda, na produção de peças”, comenta.

Karina abordou ainda as principais tendências de moda e beleza do momento e como refletem nos movimentos de aceitação corporal. “Para criar peças de roupas que alcancem o público desejado, precisamos estar “antenados”, atualizados sobre o mercado e quem são nossos clientes, como consomem e o que buscam quando procuram uma loja. É necessário um olhar atento sobre a consciência do corpo na moda e como ela se posiciona diante das mudanças e da aceitação corporal, quais soluções as marcas adotam para melhorar esta relação da moda com os corpos”.

Quem produz roupas e acessórios, seus fornecedores de matérias-primas, donos de lojas e  vendedores devem estar atentos sobre a mudança de mindset em relação ao corpo. Devem ter um olhar sem preconceitos e com mais empatia. Não pensar apenas no produto, mas nas pessoas que o usam. Isso faz a diferença. Fidelizar o cliente é uma importante chave para o crescimento – Karina Antunes

Segundo Karina Antunes, um serviço de qualidade é capaz de fidelizar o cliente (Foto: Divulgação)

Sobre a pluralidade dos corpos das brasileiras, Karina aponta a “importância de entendermos que as mulheres, ao contrário do que muitos pensam não têm um corpo dito “violão” na sua grande maioria. E isso ajuda ao mercado da moda a pensar sobre toda sua produção e soluções no vestir. Mas vejo o nosso corpo de uma forma mais ampla. Nosso corpo carrega estes traços genéticos e muitos outros. Biotipo para mim é apenas um orientador, uma bússola, que nos leva ao caminho da conscientização e diversidade”.

Perguntei a Karina como ela sente a questão de pessoas que ainda sofrem, inclusive com problemas de saúde, para se adequar aos padrões estéticos do passado. “Eu vejo e sinto estas questões o tempo todo em meus atendimentos. Toda a nossa experiência no processo de construção e reconstrução da nossa imagem é vivido pelo nosso corpo. Vivemos em uma sociedade em que padrões estéticos participam ativamente das nossas vidas e, claro, todos temos algo em nosso corpo que gostaríamos de mudar ou melhorar. Muitas vezes  percebemos as dificuldades do nosso cliente em encarar seu corpo diante do espelho. De olhar e se conhecer em detalhes. E, por vezes, destacarem em si, apenas os pontos de incômodo. E do quanto, como profissionais, precisamos ter muita empatia, atenção e acolhimento. Estamos diante de um bem precioso do nosso cliente e precisamos ter cuidado e respeito. Temos de orientar neste processo de se auto conhecer, para que ele mesmo possa observar seu corpo com o olhar da aceitação e da consciência para buscar o melhor para aplacar a cada uma das suas questões e necessidades. Deixo claro aqui que não sou contra os procedimentos no rosto ou corpo, apenas acrescento que, se este for o caminho que o cliente está buscando para aplacar suas questões de aceitação corporal, enfatizo a necessidade de ele buscar profissionais sérios, responsáveis, competentes e comprometidos, que tenham empatia sobre o processo e o ser humano que está ali sob seus cuidados”.

Karina analisa a pressão da sociedade por corpos padrões (Foto: Divulgação)

Vimos as semanas de moda no mundo voltando com a estética da magreza extrema depois de a penúltima temporada ter colocado nas passarelas corpos plurais. Sobre esta questão,  Karina diz que “depois de “abraçar” a pluralidade de corpos, fazer este movimento da magreza extrema voltar é novamente nos dizer que o corpo ideal, o corpo da moda e corpo padrão, ele existe”.

Ela relata que durante sua trajetória como consultora sentiu que muitos clientes tinham vontade de entrar em lojas de luxo, “porém mesmo alguns com poder aquisitivo para fazer compras, tinham medo de não serem bem atendidos ou já tinham tido experiências negativas em algumas lojas de luxo. Então, preparar e conduzi-los nesta jornada foi interessante. Mostrar ao cliente que ele precisa se valorizar e que, sim, merecem entrar na loja e serem muito bem tratados. E vencer este medo, além de mudar a própria postura e o olhar sobre este mercado”.

Integrante da Associação Internacional de Consultores de Imagem e líder da Regional RJ, Karina enfatiza que “é uma organização sem fins lucrativos, que tem por objetivo desenvolver e apoiar o crescimento da profissão de consultor de imagem com muito respeito e ética. Hoje, a associação tem desenvolvido um trabalho muito voltado para a diversidade, inclusão e empatia. Trabalhar com diversidade é aprender para cada vez e crescer!”

Para Karina Antunes, diversidade e pluralidade nortearão o futuro da moda (Foto: Divulgação)

Sobre a gordofobia ainda ser uma questão estrutural em nossa sociedade, Karina diz que “é um preconceito totalmente intolerável. E vai além de um problema social: é uma questão de saúde mental e física. Muitos desconhecem a dor de uma pessoa gorda ou obesa, que por vezes são discriminadas por conta de padrões de beleza inalcançáveis, e levam a muitos a questões de autoimagem e autoestima, sofrendo com problemas de ansiedade que podem culminar em uma depressão e outros distúrbios físicos. No Brasil ainda não existe uma lei específica que proteja o cidadão da gordofobia, que cada dia é mais frequente em diversos ambientes, inclusive nos de trabalho. A intolerância é grande e como cidadãos precisamos mudar este olhar de rejeição e o pensamento retrógrado que todo gordo é doente e tem falta de mobilidade, que não consegue fazer nada. Ter empatia e respeito muda o mundo!”.

Aponta que o Movimento Corpos Livres é “extremamente necessário para os dias atuais ao incentivar a aceitação do próprio corpo e a valorização da diversidade corporal, auxiliando no combate de diversos preconceitos. É tão bom podermos encorajar pessoas que antes se sentiam envergonhadas ou constrangidas por seus corpos e agora se aceitam e se amam como são. Este movimento é uma forma genuína de conscientizar, educar e mobilizar toda a nossa sociedade. Ter nossos corpos como nossos ‘templos’é um ganho de extrema valia e todos devem defender isso”.

Outra questão que ganha contorno importante de debate é a interrelação entre etarismo e a moda, que para Karina é “mais um preconceito que afeta uma parte crescente da nossa sociedade. Graças a Deus que estamos tendo mais longevidade! Aqui entram questões muito ligadas aos padrões de beleza impostos por anos para todos nós, que não afeta apenas quem tem mais idade, mas também os jovens que vivem no eterno medo de envelhecer. Nos levaram a crer que envelhecer era algo ruim e tínhamos que nos manter jovens a todo custo. Hoje, com fatores que ampliaram a longevidade, pessoas realmente vivendo mais e melhor, precisamos ampliar a mentalidade em relação a isso. Entender que envelhecer faz parte e aceitar promove um maior crescimento também para o mercado da moda. Mas para qualquer mercado crescer e se desenvolver precisa de representatividade para que produtos sejam desenvolvidos para este grupo que só cresce”.

A retórica das marcas sobre pluralidade e inclusão condiz com ações? “De fato nem sempre. Com a internet e o mundo cada vez mais globalizados, podemos acompanhar muitas marcas ao mesmo tempo e perceber, que muitas falam em inclusão, em diversidade corporal, mas que na prática não aplicam. Algumas marcas levam para seus desfiles, vitrines e fotos pessoas de corpos diversos, porém você vai à loja procurando por uma peça com medidas para seu corpo e não acha”.

Quais são as maiores carências dos clientes e como proporcionar autoestima a eles? “A maior carência deles está em relação a fazer compras mais assertivas para seus tipos de corpos. É o não poder comprar na loja desejada ou dos sonhos, porque lá o corpo dele não é atendido. Por mais que as lojas tentem se adequar, tentem “padronizar” medidas, ainda estão longe de atingir todos os corpos. Muitas marcas não têm fabricação própria e isso as deixa presas aos fornecedores, que não atendem seus clientes, impedindo que os mesmos os fidelize. Enquanto a moda não entender o indivíduo como seu verdadeiro produto, nada vai mudar. Nada adianta criar peças de roupas lindas e não ter pessoas que comprem este produto. Clientes com renda querendo investir em moda e falta um produto bom para consumir. Hoje a forma que utilizo para auxiliar meus clientes é ter modelistas/costureiras e alfaiate “amigos” e claro, além de oferecer um bom serviço para compra de tecidos e materiais para a confecção  das peças”.

Cada dia mais as pessoas buscam por lojas e profissionais que entendam e acolham seus pedidos e desejos. Então, faz diferença aprofundar no cliente e criar produtos que mudarão a forma de ele se relacionar com a marca. É preciso adequar-se, estar aberto ao novo, fazer do seu produto, um sucesso. Desenvolva atitudes sobre este produto, foque no cliente, entenda suas motivações. Esta é a chave para compreender a jornada do consumidor e sua tomada de decisão – Karina Antunes

Karina Antunes: É preciso fazer com que o consumidor se identifique com a marca (Foto: Divulgação)

Segundo Karina, no pós-pandemia, passou a haver demandas específicas: “Hoje, neste momento, temos algumas buscas pontuais: uma delas é sobre posicionamento de imagem, pessoas buscando ascensão ou novas colocações profissionais e que têm consciência que o vestir e o comportamento precisam estar alinhados para chegar aos seus objetivos. Outra demanda também do pós-pandemia, é ter um guarda-roupas mais inteligente e funcional, que tenha conforto e praticidade. A consultoria de imagem no Brasil continua numa crescente e hoje se destaca em várias frentes: Imagem Pessoal e Profissional, Consultoria Masculina, Consultoria de Varejo de Moda, Consultoria de Cores…”.

Karina Antunes e a importância da consultoria de imagem (Foto: Divulgação)

Diante de tantos universos de ação, qual o maior sonho de Karina Antunes? “Ver a Consultoria de Imagem ser reconhecida como uma profissão, regulamentada pelo mercado e sendo um agente transformador de vidas! Onde a inclusão seja destaque! Estar ao alcance de todos, não importando o nível socioeconômico dos nossos clientes. Ver profissionais bem treinados e preparados para fazerem a verdadeira diferença no mercado de Moda, Imagem e Comportamento”.

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