Quando você rói as unhas, é evidente. Elas ficam pequenas, os dedos machucados e as mãos estão constantemente na boca, especialmente em situações de estresse. “Desde pequeno eu roía as unhas. Antes, chegava até a arrancá-las”, conta Ramón Barreto, editor de adaptação da Vogue México e América Latina. Esse comportamento pode ocorrer em crianças, adolescentes e adultos em diferentes fases da vida, e para algumas pessoas pode ser um grande desafio superá-lo. Levante às mãos quem já teve as unhas pintadas com esmaltes de gosto ruim para parar de roê-las?
Quais são as consequências de roer as unhas?
O problema pode ser muito mais profundo do que se imagina, e as consequências, significativas. Esse hábito pode danificar o leito ungueal (a região de tecido sob a unha), uma área importante para o crescimento e saúde da unha. Lesões ou doenças no local podem afetar sua aparência e funções. Além disso, mesmo um pequeno corte ao redor da unha pode permitir a entrada de germes e causar uma infecção”. As unhas são uma placa dura de queratina que protege o tecido sensível dos dedos das mãos e dos pés, e podem se machucar ao serem cortadas com os dentes. Além de ficarem enfraquecidas e quebradiças, também ficam com pontas ou bordas irregulares, que podem causar feridas na boca e até lesionar o sistema digestivo.
Mais do que afetar a estética das unhas (e colocar a saúde em risco), a razão por trás desse comportamento pode ser muito mais profunda e merece atenção. Esse hábito é conhecido como onicofagia, que, segundo a ciência é um “comportamento compulsivo cujo nome vem do grego ὄνυξ (onyx), que significa ‘unha’, e φάγειν (phagein), que significa ‘comer’”.
Essas lesões autoinfligidas acontecem para satisfazer uma necessidade psicológica, muitas vezes de forma inconsciente. Em crianças muito pequenas, pode ser um sinal de que estão sofrendo bullying, abuso ou vivendo em um ambiente estressante em casa. Mas também pode ocorrer com jovens e adultos submetidos a períodos de estresse constante ou episódios traumáticos.
Qual a relação entre a ansiedade e roer as unhas?
Essa é uma das perguntas mais pesquisadas no Google. A psicóloga Camila Colina explica que roer as unhas é um sinal de ansiedade, trata-se de um gesto ao qual recorremos para trazer a atenção de volta ao corpo. “Ou que usamos como um hábito para canalizar a ansiedade por meio de um movimento repetitivo que pode ser feito de forma automática”, completa. “Em outros casos, pode ser uma resposta para lidar com a sub ou superestimulação do ambiente — ou seja, um mecanismo sensorial que nos ajuda a regular o sistema nervoso quando estamos sobrecarregados”.
Como parar de roer as unhas?
Se você lida com esse comportamento há anos, pode parecer um cenário sem muita esperança. Mas, como explica a psicóloga, roer as unhas é um hábito. “E como qualquer hábito, pode ser reaprendido.” A especialista conta que uma opção é substituir esse hábito por outro que cumpra a mesma função. “Por exemplo, se for causado por estresse ou ansiedade, é possível adotar outros hábitos que tragam a atenção de volta ao corpo de maneira mais gentil, como tocar os braços e as pernas com as mãos para aumentar a consciência corporal, ou ter por perto bolinhas de estresse.”
Por outro lado, se o ato de roer as unhas for um mecanismo de autoestimulação: “Você pode substituir esse hábito por brinquedos de estimulação, como fidget spinners, bonecos maleáveis ou até anéis giratórios.” Colina afirma que o primeiro passo é perceber quando você executa essa ação e se interromper no momento em que se der conta. “Isso é fundamental para poder redirecionar a atenção e buscar mecanismos de regulação mais gentis”, afirma.
Embora nem sempre o caminho seja fácil, Ramón Barreto compartilha que, após trabalhar com seu terapeuta, encontrou formas mais saudáveis de lidar com essa compulsão. “Percebi que não é apenas algo antiestético, mas também uma atitude pouco gentil comigo mesmo”, conta. “Em momentos de alta tensão, especialmente no trabalho, quando percebo que estou com a mão na boca, tento substituir por um objeto como uma bolinha de estresse. Assim, consigo enfrentar qualquer desafio sem precisar me machucar.”
Procurar a ajuda de um psicólogo que possa te acompanhar no desenvolvimento de estratégias para lidar melhor com o hábito e descobrir a raiz do problema é uma das melhores saídas para deixar de roer unhas de vez.