“As crianças de hoje estão trilhando uma linha muito tênue e o algoritmo as ataca e as atrai”, disse Paul, um pai australiano, que perdeu a filha de 13 anos por conta de um desafio popular do TikTok. Agora, ele está entre as famílias que lutam por mudanças sérias nas redes sociais junto ao governo australiano, com a intenção de manter as crianças e adolescentes mais seguros.
Esra Haynes, a filha dele, estava no oitavo ano e era popular na escola, além de ser uma atleta promissora. Ela adorava jogar futebol e atuava como co-capitã de seu time júnior nos subúrbios ao leste de Melboyrbe, além de jogar netball e praticar ciclismo BMX.
No fim de semana da Páscoa, a adolescente estava hospedada na casa de uma amiga para uma festa do pijama quando Paul e sua esposa receberam um telefonema perturbador e ouviram: “Venha buscar sua filha”. Quando eles chegaram à casa da amiga da menina, depararam-se com paramédicos e policiais, que estavam realizando tentativas desesperadas de ressuscitar a menina.
Depois, eles souberam que, durante a festa do pijama, Esra inalou produtos químicos perigosos de uma lata de desodorante, uma tendência comumente chamada de desafio da “cromagem”.
Como resultado, ela sofreu uma parada cardíaca e, apesar dos esforços dos paramédicos, foi levada às pressas para o hospital com uma lesão cerebral hipóxica. Lá, permaneceu em aparelhos de suporte vital por oito dias angustiantes antes que os médicos dissessem aos pais vitorianos que o “cérebro de sua filha estava danificado sem possibilidade de reparo”.
Paul e sua esposa, Andrea, acreditam que aquela foi a primeira vez que ela participou desse tipo de desafio, inspirada por uma tendência que ela e seus amigos provavelmente encontraram nas redes sociais.
“Tenho certeza de que ela viu isso em postagens de redes sociais”, disse Paul, em entrevista ao The Herald Sun. “Basta que uma criança veja, compartilhe e divulgue para que todos comecem a fazer também”, afirmou.
Esra não foi a única a sofrer consequências sérias ainda tão jovem por conta dessa tendência perigosa. Em 2021, Chloe Rowe, de 16 anos, da Gold Coast, também na Austrália, sofreu graves lesões cerebrais após participar da tendência de cromagem com seus amigos; seu coração parou por pouco menos de meia hora e teve que passar por meses de reabilitação.
No início de março deste ano, o menino britânico de 11 anos Tommie-Lee Gracie Billington “morreu instantaneamente” após inalar a fumaça tóxica em uma festa do pijama com amigos.
Os pais de Esra acreditam que a dependência das redes sociais durante a pandemia pode ter contribuído para a morte da filha. “A geração deles foi forçada a abandonar a escola e não tinha mais nada além das redes sociais”, avalia. “Como moramos em uma propriedade rural, ela se sentia muito isolada”, acrescenta.
Em resposta ao aumento de mortes relacionadas ao desafio de cromagem crianças, plataformas de mídia social como o TikTok tomaram medidas para restringir o acesso a esses clipes perigosos. Mas, para os pais de Esra, o governo australiano precisa tomar novas medidas, já que os adolescentes “acreditam em tudo o que veem online”.
“Quando eu tinha essa idade, tínhamos que procurar coisas na biblioteca ou numa enciclopédia, mas agora não há controle sobre o que eles acessam”, ressaltou o pai, enlutado. Ele e Andrea tentaram garantir que os filhos praticassem esportes para que pudessem mantê-los “longe de tudo isso”. “Mas você nunca sabe o que vai acontecer, não é?”, disse.
Na semana passada, o governo da Austrália do Sul anunciou que estava fazendo pressão pela proibição do acesso às redes sociais a crianças com menos de 16 anos de idade, uma medida que o governo de New South Wales, também na Austrália, está considerando adotar.
Para Paul, isso seria “fantástico”, já que “adolescentes de 13 anos ainda são crianças e as decisões que tomam nem sempre são decisões acertadas”. “Quero fazer o que puder para garantir que nenhuma outra família passe pelo que passamos com Esra. Não queremos que mais crianças morram, isto precisa parar agora”, completou.