Nesta entrevista, ela fala do ofício como atriz e avalia a experiência em ‘Travessia’. Além de exaltar suas raízes e avaliar as transformações no mercado. “Venho aprendendo a lidar com a exposição, com muita gente opinando na carreira. Então hoje escolho o que quero ver, ler.
Está tudo muito latente, as pessoas querem ser juízas em tudo, mas aprendi a lidar com isso, filtrando para que não atrapalhe meu desempenho. Mas mexe com a gente, haja terapia (risos)”, diz. E mesmo reservada, fala sobre sua bissexualidade e a importância da naturalização do amor. “Não sou de expor o que acho que deve ser privado.
Gosto de falar do que estou produzindo, acho que esse é meu interesse maior junto do meu público. Quando falei abertamente sobre sexualidade é porque me sinto cada vez mais livre. É bonito ver que as novas gerações são ainda mais libertas, se relacionam sem tantas questões. É importante dizer que essa liberdade é um direito e também uma questão de sobrevivência. O Brasil é um país que ainda mata muitos LGBT’s.
Por isso é bom sempre que possível falar, dar visibilidade para a comunidade. Tenho muito orgulho de hoje poder representar tantas pessoas, desde as mulheres nordestinas, compositoras. Estou bem na minha pele”
Depois de experimentar o protagonismo como atriz na TV em ‘Travessia’ (2022-2023), Lucy Alves se volta para sua raiz artística: a música. E nesta sexta-feira (12) lança o single ‘Melaço‘, a primeira faixa do EP ‘Flor de Sol‘ que chega ao público em 26 de janeiro. “Essa música a cara do verão, solar. A Raquel Reis, que faz parceira comigo nela (e que canta ‘Maresia‘, que está na novela das sete da Globo, ‘Fuzuê‘), é uma das artistas da nova geração que admiro, porque é uma super compositora. A partir de março também levo ao público outros lançamentos. Estou montando um show novo, vou me dedicar muito à música esse ano”, vibra.
Protagonista de ‘Travessia‘, folhetim anterior à ‘Terra e Paixão‘ na faixa das 21h na Globo, que sofreu muitas críticas, Lucy comenta o que ficou da intensa experiência. “É um produto muito visto, muito querido pela emissora, então é uma responsabilidade e exposição grandes. A protagonista é a ponta da lança. Gostei da experiência, aprendi muito mesmo, mas foi mais um trabalho na minha carreira.
Entendi que público opina, participa e é um elemento que nunca sabemos muito onde vai dar. Amadureci por ter lidar com muita gente, com minhas emoções, com tudo o que envolve um trabalho assim. Posso dizer que tento sempre fazer o meu melhor, entro sempre pra me doar”. E avalia:
Desde o The Voice, reality que participei e me tornou conhecida, que venho aprendendo a lidar com a exposição, com muita gente opinando na carreira. Então hoje escolho o que quero ver, ler. Está tudo muito latente, as pessoas querem ser juízas em tudo, mas aprendi a lidar com isso, filtrando para que não atrapalhe meu desempenho. Mas mexe com a gente, haja terapia (risos), que durante a novela quase não fiz porque não dava tempo. De qualquer forma, não abro mão. Já faço terapia há cinco anos e me ajuda a me entender, evoluir, saber lidar com as minhas questões. É trabalhar muito pra poder sempre fazer!- Lucy Alves
Lucy tem mergulhado em si e na sua expressão artística através do trabalho. Reservada, ela gosta mesmo é de falar das criações em que está envolvida, de refletir sobre arte e cultura, mas não se nega a falar quando o tema é respeito pela liberdade de amar. Bissexual, quando foi divulgado que ela namorava a produtora Victoria Zanetti, ela viu com naturalidade comentar o fato, apesar de entender que o merece foco é sua vida profissional. “Vejo com naturalidade, como deve ser.
Não estou mais namorando a Victoria, terminamos há algum tempo. Não sou mesmo de expor o que acho que deve ser privado. Gosto de falar do que estou produzindo, acho que esse é meu interesse maior junto do meu público”. Mas está solteira ou amando? “Estou conhecendo alguém”, revela.
Buscando naturalizar afetividades, a artista comenta sobre a bissexualidade, ainda cercada de tabus no mundo contemporâneo. “É fluido sentir, então deve ser fluido falar sobre. Afinal é a liberdade de ser quem eu sou. Conheço bem a minha essência, o que sinto, do que gosto e isso diz muito respeito a mim mesma.
Muita gente gosta de opinar sobre o que acha melhor para o outro. Quando falei abertamente sobre sexualidade é porque me sinto cada vez mais livre. É bonito ver que as novas gerações são ainda mais libertas, se relacionam de forma mais direta e sem tantas questões”, observa.
É importante dizer que essa liberdade é um direito e também uma questão de sobrevivência para muitas pessoas. O Brasil é um país que ainda mata muitos LGBT’s. Por isso é bom sempre que possível falar, dar visibilidade para a comunidade. Tenho muito orgulho de hoje poder representar tantas pessoas, desde as mulheres nordestinas, compositoras. Estou bem na minha pele – Lucy Alves
Pela valorização das raízes culturais
Artista nordestina nascida em João Pessoa, na Paraíba, Lucy ficou conhecida do grande público há 10 anos quando participou do ‘The Voice Brasil‘, mas já fazia música em família, com um grupo formado por ela, seus pais e irmãs, o ‘Clã Brasil’, desde 2001.
Valorizando suas raízes, ela defende mais espaços para que artistas regionais se apresentem nos grandes eventos locais. “O Carnaval e o São João, a maior festa do Brasil até pela quantidade de municípios que movimenta, são exemplos disso. É bom e natural que sejam levadas as grandes atrações populares, que estão na boca do povo.
Mas acho que os artistas locais podem ser mais acarinhados também, já que esse é um momento que eles podem brilhar, mostrar seu trabalho. É importante ter esse olhar, cuidado”.
Para se manter uma cultura é fundamental mostrar para as novas gerações o que já existiu. No meu trabalho também faço questão de homenagear, exaltar, quem construiu esse caminho antes. Eles estão na minha bagagem. O que defendo é um espaço maior para essas pessoas que conservam a tradição – Lucy Alves
Lucy lembra que ter essa bagagem manteve seus pés no chão, mesmo depois de entrar para o show business. “Podemos fazer tudo o que o nosso coração manda, sem perder a essência primeira. As coisas vão chegando, se aglutinando, somando, mas a base, a raiz, permanece”. E avalia: “Do meu começo para cá muita coisa mudou.
O mundo está vivendo uma transformação muito rápida de forma geral, na música, na tecnologia e nos meios de divulgação também. Os artistas tiveram que entender isso para produzir sua arte. Ao mesmo tempo que pedimos mais espaço nos grandes eventos para artistas locais, eles também podem ter mais visibilidade do que antes através das plataformas, das redes sociais.
É um momento de adequação, seguimos construindo um novo caminho. O Brasil é um país muito grande, então está acontecendo também a procura por novos sotaques, narrativas, saindo um pouco desse eixo Rio-São Paulo.
Ainda não está perfeito, mas estamos em plena transformação. É um momento bom. Os espaços estão se abrindo e se voltando para a diversidade, com um olhar de inclusão. O mercado está proporcionando uma liberdade e uma democratização maior, tanto para quem deseja fazer música, como para quem quer consumir”.
Como se destacar nesse universo mais aberto e plural? “São muitos fatores. Tem a coisa do público eleger artistas também. Não tem regra. Se eu pudesse dar um conselho, é fazer tudo da forma mais autêntica possível.
Vivemos em um mundo em que as coisas estão sendo produzidas de forma veloz, com muita gente copiando o que está dando certo, o que está no hype, e isso não é garantia nenhuma. Hoje com a transparência das redes, o público procura muito por artistas verdadeiros na sua arte, nos seus nichos. Seja sincero e seguro, para que a influência desse mundo competitivo não interfira na sua identidade, na sua voz.
Assim a chance de se destacar é maior. Eu mesma, estou sempre resgatando o que fala alto. Coloco o ofício na frente, a música em si. E se eu vou atuar, a atriz. Não me fixo no que seria mais popular apenas, busco sempre essa conexão com a essência. É difícil porque muitas vezes ficamos tentados a embarcar na onda, mas graças a Deus estou sempre voltando para o que me emociona. Quando preciso, volto para Paraíba, bebo no meu nascedouro.
Me escuto e produzo o que faz sentido para mim e isso acaba chegando no público”, conclui.