Atriz, cantora e escritora, Mharessa Oliveira afirma que passou por um processo complexo de aceitação do início da carreira artística como sósia da personagem de Larissa Manoela. “Em um primeiro momento, não receber o reconhecimento pelo meu trabalho foi muito difícil, porque eu era só uma criança de 13 anos. Todo sonho de uma atriz é ser reconhecida por aquilo que faz. Quando me chamaram para o teste como sósia, eu precisei passar por psicólogos e profissionais da saúde para me auxiliar neste processo. Acredito que não foi por mim, mas pelo olhar das pessoas, que enxergavam o que eu fazia como não importante. Por um tempo, eu demorei a entender que realmente precisava estar ali. Mas, quando entendi, ninguém mais conseguiu tirar essa ideia de mim”. Hoje comemora o protagonismo no longa “No Ritmo da Fé”, um livro de sua autoria e uma série de novos filmes
Recentemente, a atriz e cantora Mharessa Oliveira abraçou a oportunidade de protagonizar o seu primeiro filme. O longa “No Ritmo da Fé” foi lançado em julho pela Santa Rita Filmes. A oportunidade de dar vida à personagem Camila veio logo após a artista estrelar a série “Todas as Garotas em Mim” (Tagem), exibida pela Record TV no segundo semestre do ano passado. Se, por um lado, o seriado marca a pior audiência já registrada por uma obra de dramaturgia da emissora, por outro, o filme alcançou, em poucos dias, o TOP 10 produções mais assistidas da Netflix. Essa leva o público a querer acompanhar de perto os passos da trajetória artística da atriz. Apesar disso, a carreira de Mharessa nem sempre apresentou um cenário favorável à assinatura de seu trabalho e a atenção do público. O início se deu pelo papel como dublê de Larissa Manoela na telenovela “Cúmplices de um Resgate”, adaptação do produto audiovisual mexicano de mesmo nome. Inevitavelmente, assumir um ofício às sombras de uma atriz que conquistou o país causou sequelas emocionais e a necessidade por reconhecimento da sua atuação.
Durante a pré-adolescência, a atriz aponta ter sentido que o público não a enxergava de fato. Mharessa abriu o coração ao reconhecer que as pessoas conheciam apenas suas mãos e cabelos, mas não sabiam qual era o rosto dela. Com o tempo, a jovem artista passou a sentir que “estava ali para nada” ao servir como sósia das gêmeas protagonistas, Manuela e Isabela.
“Em um primeiro momento, não receber o reconhecimento pelo meu trabalho foi muito difícil, porque eu era só uma criança de 13 anos. Todo sonho de uma atriz é ser reconhecida por aquilo que faz. Quando me chamaram para o teste como sósia, eu precisei passar por psicólogos e profissionais da saúde para me auxiliar neste processo. Acredito que não foi por mim, mas pelo olhar das pessoas, que enxergavam o que eu fazia como não importante. Por um tempo, eu realmente acreditei que o que eu fazia ali não era importante”, desabafa.
Segundo Mharessa, o ofício como dublê marcou um árduo aprendizado de captação das manias, gestos e “tudo que Larissa queria criar para as personagens dela”. Isso porque a replicação dos trejeitos de uma pessoa envolve um exercício primoroso de observação e leitura corporal.
Mharessa é profundamente religiosa e não hesita em mostrar a fé em suas produções como artista. Portanto, a série e o filme que protagonizou assumiram um tom espiritual, assim como seu livro, “(Ide)ntidade, publicado há cerca de um ano. A atriz de 21 anos se coloca como “influencer cristã” e direciona as músicas, papéis e escritos a meninas com a mesma crença em Deus. Em um mundo extremamente crítico e polêmico, são poucos artistas que permanecem convictos e devotos a seus ideais e valores. Mharessa, ao envolver sua fé e levá-la para todos os cantos e trabalhos sem se deixar atingir pelas censuras da sua geração, coloca-se como autoral e corajosa.
Também cantora, Mharessa demorou a internalizar que o trabalho como dublê “era de muita responsabilidade e honra”. Ela compreendeu que, apesar das pessoas desconhecerem as suas feições, o trabalho que fazia era igualmente importante ao da protagonista. Afinal, a artista estava de segunda a sábado com todo o elenco, além de decorar cada uma das falas das gêmeas como Larissa. Mesmo nas gravações sem cenas com as irmãs juntas, a atriz tinha o compromisso de comparecer ao estúdio para acompanhar a atuação da artista principal e aprender a replicá-la.
A intérprete da protagonista Mirela Sampaio, da novela “Todas as Garotas em Mim”, avalia que seu “grande primeiro trabalho” foi como sósia. A partir dele, a artista considera ter conquistado espaço e oportunidades diversas para crescer na indústria cultural.
“Por um tempo, eu demorei a entender que realmente precisava estar ali. Mas, quando entendi, ninguém mais conseguiu tirar essa ideia de mim. Foi algo realmente especial. Eu aprendi muito. Tenho muito orgulho de falar que comecei de um jeito diferente daquele que outros atores começaram. A maioria deles cresceu com os personagens de “Chiquititas”, “Carrossel” ou “Cúmplices [de Um Resgate]“, mas eu não. O que aconteceu depois disso foi muito importante. Dizerem que eu fui [sósia no início da carreira] nunca foi algo ruim para mim, mas grande orgulho. Isso formou muito de quem eu me tornei como atriz”, atesta.
Sem desmerecer o ofício como dublê, Mharessa afirmou estar “saindo de um lugar indo para outro”, em busca de outros tipos de trabalho. A estrela em ascensão está determinada a alçar voo na carreira ao se jogar em projetos que a desafiem realmente como profissional. A artista dispõe de múltiplos talentos e habilidades: dança, canta, atua, dubla e escreve. Aos fãs, ela oferece um leque de opções de trabalhos dentro do mundo cultural.
“Também tenho a minha carreira como cantora. Eu adoro cantar porque é algo que me preenche muito. Na minha cabeça, a atuação e a música andam coladas, não são coisas separadas. Não é porque eu sou uma [atriz] que não posso ser outra [cantora]. A música é um plano meu, mas acho que agora estou realmente focada nos filmes e nas novelas. A gente também está vendo o streaming tomar conta hoje em dia, então meu grande foco neste momento é conseguir algum trabalho direto com uma plataforma de streaming“.
Eu demorei a entender que realmente precisava estar ali, mas, quando entendi, ninguém mais conseguiu tirar essa ideia de mim. Ser dublê é um trabalho de muita responsabilidade e honra — Mharessa
Relação de Mharessa e Larissa
Durante o período de gravação de “Cúmplices de Um resgate”, o contato diário com Larissa aproximou as duas. Mharessa fazia companhia a ela até mesmo nos dias em que a atriz filmava sozinha.
“Eu era uma companhia para ela, como ela era para mim. Nós fizemos os papéis de irmãs, o que não é pouca coisa. A gente acabou pegando muitas coisas uma da outra ao passar o tempo juntas. Foram dois anos de gravação, tempo suficiente para se criar um laço. Isso foi muito importante para nós duas porque criamos laços muito fortes naquela época que permanecem até hoje. A gente guarda tudo isso que a gente passou com muito carinho”, afirma.
No entanto, a relação entre Mharessa e Larissa esfriou com o passar dos anos, o que fez com que internautas levantassem hipóteses relacionadas a uma possível influência dos pais no afastamento das duas. Desde a polêmica com a mãe e o pai, Larissa voltou a ser vista e a postar fotos ao lado de Mharessa. Fazendo referência ao papel de dublê das gêmeas em “Cúmplices de Um Resgate”, as amigas se apelidam até hoje como “irmãs” nas redes.
Protagonista
Como grande desafio na carreira audiovisual, Mharessa apontou a responsabilidade de lidar com seu primeiro papel como personagem principal. Ela dá vida à musicista Camila que tem sua vida transformada após ser convidada para participar de uma banda cristã em “No ritmo da fé. “Fazer uma protagonista por si só já é um grande desafio. Eu nunca havia feito nada que exigisse tanto de mim antes. Eu gravava 12 horas por dia e tinha apenas um dia de folga. Foi uma loucura, mas a experiência foi incrível. Acho que tive esse primeiro impacto de ‘caramba, isso realmente depende de mim e eu preciso fazer isso com tudo o que eu tenho’. Também foi desafiador transitar entre o lado bíblico e contemporâneo. Tinha uma mudança de linguagem e comportamento de época”, conta ela.
A cantora destaca que há uma intensa troca entre seus personagens e ela. Para a jovem adulta, tudo aquilo que ela faz no campo cultural é banhado por uma mínima ação ou sentimento por aprendizados que obteve no contato com os papéis que assumiu como atriz.
Neste ano, Mharessa participou ainda do filme “Um Ano Inesquecível – Outono”, adaptação do livro “Um Ano Inesquecível” das autoras Babi Dewet, Bruna Vieira, Paula Pimenta e Thalita Rebouças. Inspirada nos quatro contos que usam usam as estações do ano como plano de fundo, a franquia foi produzida pelo Prime Video. A estudante de direito Babi, personagem coadjuvante interpretada pela atriz, foi pensada especialmente para a trama cinematográfica. Assim que encarnou o papel, a artista percebeu a importância que a obra literária teve para a atual geração de meninas e jovens-adultas. No entanto, a cantora admitiu não ter lido o livro antes das gravações.
Carreira como dubladora
Quando convidada, a atriz não resistiu em mergulhar no mundo da dublagem audiovisual brasileira. Em 2019, ela cedeu sua voz à adolescente Yi, da animação “Abominável”, produzida pela DreamWorks Animation e pela Pearl Studio.
Para Mharessa, o ator tem duas grandes armas: a voz e o corpo. A partir delas, este profissional consegue passar a carga dramática desejada em uma atuação. A jovem constata que, em alguns momentos, o artista não precisa nem mesmo dizer nada porque “o corpo fala por si só”.
“A dublagem é uma experiência bem diferente e desafiadora, mas acho que ser atriz ajuda bastante. Na dublagem, eu só posso usar a voz porque as pessoas não estão me vendo. Dublei uma única vez em 2019 e tinha pouca experiência com isso com o curso que fiz. É bem difícil mesmo olhar para uma tela que é a animação e não ter certeza do que o rosto do personagem quer dizer. Para dublar, a gente precisa casar esta arma do personagem com a sua voz”, detalha ela.
O processo de dublagem do filme durou cerca de quatro dias para Mharessa. A moça, que morava em São Paulo, teve que viajar ao Rio de Janeiro para o projeto. O trabalho exigiu muita paciência dela para o casamento entre as cenas e a voz fossem refeitas mais de três vezes.