A vacinação de crianças e adolescentes contra a dengue em 2024 ficou muito abaixo da meta do Ministério da Saúde.
As salas de vacinação estão vazias e as geladeiras cheias de doses da vacina contra a dengue em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
“Eu acredito que eles deixam para depois. ‘Ah, depois eu levo, depois eu levo’ e acaba que esquece”, diz a técnica em enfermagem Erci Madureira.
O Brasil foi o primeiro país no mundo a oferecer, no sistema público de saúde, o imunizante contra a doença que só em 2024 já atingiu cerca de 6,6 milhões de pessoas e matou quase 6 mil. O país adquiriu 6,5 milhões de vacinas no fim de 2023. Distribuiu cerca de 5,6 milhões para mais de 1,9 mil municípios.
O público-alvo escolhido para receber o imunizante Qdenga, neste primeiro ano, foram as crianças e os adolescentes entre 10 e 14 anos. Essa faixa etária foi escolhida porque os estudos mostraram que nos últimos cinco anos as internações por dengue foram maiores em crianças e adolescentes dessa idade.
A meta do Ministério da Saúde é vacinar 90% de mais de 8 milhões de pessoas desse grupo. Mas até agora, um ano depois da vacina chegar aos centros de saúde, apenas 25% receberam a primeira dose. O balanço da segunda dose é ainda pior: só 805 mil aplicações.
Ministério da Saúde é vacinar 90% de mais de 8 milhões de pessoas desse grupo — Foto: Jornal Nacional
O epidemiologista e professor universitário José Geraldo Leite afirma que a dengue tem se tornado um dos maiores problemas de saúde pública no Brasil e a baixa imunização pode piorar este quadro.
“Além da vacina dengue evitar infecção pelo vírus dengue, talvez o aspecto mais importante seja evitar os casos graves. Evitando caso grave, evito hospitalização, evito óbito”, afirma o epidemiologista.
Éder Gatti, diretor do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, diz que é preciso fazer um esforço para levar os jovens às unidades de saúde.
“Nós temos que lançar estratégias específicas para fazer a vacina chegar até eles. Eles não são como, por exemplo, as crianças menores que frequentam os postos de saúde com maior frequência […] Nós também precisamos associar outras estratégias, ou seja, nós não podemos abrir mão de eliminar os focos criadores do Aedes aegypti”, afirma o diretor.
O Bernardo Luíz de Araújo, de 11 anos, já garantiu a dose de proteção:
“A dengue é muito perigosa. A gente tem que tomar a vacina para se proteger dela”, diz.
O Ministério da Saúde declarou que, em 2025, vai aumentar o número de municípios com vacinas disponíveis para crianças e adolescentes; e que aguarda a aprovação da vacina do Butantan para ampliar a imunização contra a dengue para outras faixas etárias.