Após sucesso em ‘Vai na Fé’, Elisa Lucinda terá história contada em documentário

Elisa Lucinda está prestes a ter sua história contada em um documentário. Aos 65 anos, a atriz e escritora, que está completando 35 anos de carreira, comemora o novo projeto, após o sucesso estrondoso da novela “Vai na Fé”, na TV Globo, em que interpretou dona Marlene, mãe da protagonista Sol (Sheron Menezzes). A artista conta que foi procurada pela diretora Glenda Nicácio, que encabeça a produção ao lado de Ari Rosa, além de assinar a direção de “Fuzuê”, atual novela das sete, em parceria com Fabricio Mamberti.

“Eu estou muito feliz! Glenda é uma menina rara, que entrou na universidade de Cinema pelo sistema de cotas e virou rapidamente, antes dos 30 anos, uma mulher de referência no novo cinema brasileiro. Ela que veio me convidar, dizendo que queria fazer um trabalho bacana porque achava que minha história valeria a pena ser contada no Brasil de agora. E eu acho que minha história pode ser interessante mesmo, e que sirva de exemplo pra tantas pretas, pretos e pretes desse país”, revela Elisa.

Depois de um período de férias em Itaúna, no Espírito Santo, ela se prepara, agora, para emprestar sua voz à protagonista da série animada “Vovó Tatá”, do Gloob, além das filmagens de uma participação no remake da novela “Dona Beija”, do HBO Max, e a terceira temporada de “Manhãs de Setembro”, série do Prime Video, reconhecida pelo Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.

A poetisa também já tem a presença confirmada em eventos literários ao redor do Brasil, às vésperas do lançamento de três novos livros, dois de poesia e um de prosa. Conhecida pelo engajamento político, Elisa Lucinda comemora o novo momento na cultura do país. “Voltamos a uma normalidade civilizatória. Fomos ao inferno e voltamos, então, as feiras estão renascendo, têm incentivo do Ministério da Cultura que, aliás, está brilhante com a Margareth Menezes e uma equipe incrível.”

Em breve, os fãs terão, ainda, outra novidade. Trata-se de um sonho que Elisa nunca havia conseguido tirar do papel até então. “Eu quero fazer um novo álbum. Nunca fiz um álbum publicamente, de canção e poesia, mas vou fazer ainda isso, bem bonito. Eu faço isso ao vivo, mas nunca fiz um disco, a não ser um que eu fiz mais fechado. Esse projeto eu quero fazer. Eu acho que devia se chamar ‘A Voz Rouca da Crooner’, que é uma música do meu amigo Márcio Proença”, adianta.

No último fim de semana, a atriz subiu ao palco do histórico Teatro Rival, no Centro do Rio, com casa lotada, para apresentar o monólogo “Parem de Falar Mal da Rotina”, comemorando os 21 anos na estrada com o espetáculo. Atualmente no ar com a reprise de “Mulheres Apaixonadas”, clássico de Manoel Carlos, no “Vale a Pena Ver de Novo”, Elisa não esconde a alegria com participação mais intensa de artistas negros na TV e no cinema.

“A sensação é de caminhar sobre a minha utopia, de andar sobre o meu campo florido, onde antes não havia nada. Havia poucos e grandes guerreiros como Ruth de Souza, Léa Garcia, Chica Xavier, Antonio Pitanga. Uma sensação de ter chegado a uma espécie de futuro. Ainda falta muito, mas já é bem mais perto do que sonhávamos. Nós éramos sozinhos, era um preto por elenco, era muito difícil. Nunca considerados na maioria das escolhas de elenco. Quando sabíamos que ia acontecer uma escolha de elenco pra nova peça de (Anton) Tchekhov, Nelson Rodrigues, Shakespeare, nós nunca éramos o elenco considerado. Precisou Peter Brook [diretor inglês] vir ao Brasil fazer um Hamlet preto para as pessoas, pelo menos, aplaudirem. Acharam exótico, não entenderam a força que tinha aquela montagem”, relembra a capixaba, citando a peça que estreou no país em 2002.

Depois de integrar “Vai na Fé”, que teve um dos maiores elencos negros na história da TV Globo, Elisa destaca a mudança de comportamento na dramaturgia. “Nós estamos vivendo uma hora ótima, a libertação da cabeça colonizada dos produtores. Eles sacaram que tem muita ator bom preto e que o audiovisual só tem a ganhar com essa amplidão”, opina. “Esse fenômeno de audiência do horário, com várias pessoas na rua dizendo que devia ser novela das nove, foi porque a novela representava grande parte do povo brasileiro que nunca era representada. E caiu o mito injusto que dizia que ‘negros não vendem’, ‘negros não fazem sucesso com as marcas’, que não atraem patrocinadores. A novela provou de cabo a rabo.”

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