Alice Wegmann sobre os 30 anos, carreira e namoro discreto: “Não poderia estar mais feliz”

Alice diz que tem sede de viver. Sempre teve, desde que se entende por gente. Basta uma conversa rápida para perceber que é verdade, tanto que se conecta com as escolhas que fez até aqui. Especialmente a de ser atriz, ofício em que sacia a vontade de experimentar outras existências além da própria. Já foi Carolina e Débora, Lilian e Dalila, Marina e Maria, ao longo de 15 anos de uma carreira que chega ao seu ápice com outras duas personagens: a Raíssa, de Rensga Hits, e Solange Duprat, de Vale Tudo. Mil mulheres, mil vidas, uma só Alice Wegmann.

Tricolor engajada, entrou na nossa sala de videoconferência para a entrevista com a camiseta do Fluminense. Dali, seguiria para o Maracanã. Nada mais coerente para alguém como ela do que a escolha por um time com muitas cores. Sua presença, de alguma forma, colore os lugares por onde passa. Na escola, era a menina que não se limitava a ser amiga de uma turma. “Interagia com todos. Sentia vontade de conectar pessoas. O interesse pelo outro é base da minha profissão”, diz.

Parece razoável concluir que uma pessoa sedenta de vida desenvolva uma relação peculiar com o tempo, e isso vale para Alice. Acaba de cruzar a barreira dos 30 anos (é escorpiana, nascida em 3 de novembro) e enxerga esse aniversário como um momento de colheita. “Dos 27 para cá, foi muita dedicação, esforço, inquietude. Então, sinto que é uma virada. Eu não poderia estar mais feliz”, comenta. A data redonda a coloca em sintonia com os 50 anos da Globo, emissora que é sua casa desde sempre, e com os 80 anos da HStern, grife com quem também tem conexão. “Minha tia Renata trabalhava numa das lojas, e me lembro que, quando criança, ia com minha mãe visitá-la. A gente tomava café, batia papo. Ali aprendi muito sobre pedras preciosas.”

Talvez pareça estranho que alguém com apenas 30 anos já tenha 15 de carreira, mas Alice começou cedo mesmo. Não só na atuação, aliás. Antes disso, teve um momento atleta, numa fase da infância em que muita gente quer apenas caçar Pokémon e comer biscoito recheado. Praticava ginástica artística. “Dos 3 aos 11 anos, passava quase sete horas por dia treinando, numa rotina entre as aulas no tradicional Colégio Santo Inácio e as acrobacias”, lembra. Parecia ser uma missão da infância, adolescência e começo da vida adulta, uma corrida contra o tédio. “Uma característica da minha geração”, diz.

Nessa toada, um dia bem vivido sempre foi sinônimo de um dia preenchido com trabalho e compromissos. Até que a pandemia, em 2020, fez com que sua relação com o balanço das horas fosse revista. “Antigamente, não conseguia ficar quieta, olhando para o teto. Hoje em dia, adoro. Um dos meus hábitos favoritos é justamente o de não fazer nada. Acho importante ficar no vazio para pensar, enfrentar os medos, as angústias. Sem isso, a gente não cresce.”

O problema é conseguir fazer isso com uma agenda de mocinha da novela das nove. Ainda que, sejamos justos, no dia da entrevista, Alice tivesse seguido exemplarmente o plano de aproveitar uma folga: passou horas na praia de Ipanema e até cochilou na areia. Também aproveitou para atualizar a leitura – está lendo Triste Tigre, de Neige Sinno, autora francesa que foi um dos destaques da Festa Literária de Paraty deste ano. Aliás, os livros têm sido substitutos para o celular, especialmente em intervalos de gravação.

Outro encontro com o tempo, ela relembra, aconteceu do outro lado do mundo. Em 2024, passou um mês no Japão com o amigo Francisco Gil, filho de Preta Gil. Em meio à dualidade de um país que transita entre o equilíbrio da tradição milenar e o olhar firme para o amanhã, repensou os rumos de sua vida. E se pegou imaginando um legado, algo talvez precoce para alguém tão jovem, mas que já havia sido tema de outra visita à Ásia. “Fiz um mochilão quando tinha 21 anos. Uma amiga e eu passamos por Laos, Camboja, Vietnã, Mianmar e Indonésia. A gente rodou muito por ali. Eles têm uma visão muito diferente sobre o tempo, né? Das coisas que perduram entre as gerações”, explica.

Reflexões sobre o tempo trazem à conversa suas lembranças de família e a conexão com as joias. Guarda com carinho especial um anel de diamantes que ganhou da avó, Maria Inês, sua escolha para ocasiões especiais. É daquelas peças que ela pretende um dia repassar para suas próprias netas, caso as tenha. “Sempre fui mais da atemporalidade. De comprar coisas que vou usar a vida inteira”, pontua. “Ou que depois posso passar adiante para que outras pessoas aproveitem. A Solange acredita muito nisso também, no consumo consciente.” Sim, ela e sua personagem na novela do horário nobre compartilham o lado fashionista.

Se, do ponto de vista das estatísticas humanas, pessoas de 30 costumam ter, relativamente, pouco passado e muito futuro, Alice prefere, no que diz respeito aos modos verbais, pensar no presente. “Tipo o nome do álbum de Paulinho da Viola que se chama Meu Tempo É Hoje, sabe?”, diz. Além dos bons ventos profissionais, vive um namoro apaixonado com o empresário Luiz Guilherme Niemeyer. Sempre reservada, apenas recentemente começou a falar sobre o relacionamento. “Estávamos ficando juntos. Oficializamos recentemente.” Seria de se esperar que o fim da novela viesse acompanhado de planos de embarcar para merecidas férias, mas não. Já tem trabalhos engatilhados para os próximos meses, sobre os quais prefere guardar segredo. Descanso, talvez, só em 2026. Afinal, o tempo não para.