Por que amassar uma borboleta, misturar com água e injetar pode ser fatal? Entenda o caso de garoto que morreu na Bahia

Um adolescente de 14 anos morreu dias depois de ter relatado que esmagou uma borboleta, misturou com água e injetou a mistura em sua perna.

Segundo especialistas, a manipulação de fluidos biológicos de insetos pode representar sérios riscos à saúde.

Isso porque, as borboletas, como outros insetos, possuem substâncias em seus corpos que não são seguras para o organismo humano.

De forma geral, as borboletas até podem carregar substâncias tóxicas que funcionam como mecanismos de defesa contra predadores.

Entre os exemplos mais conhecidos está a borboleta-monarca, cujas lagartas se alimentam de algodão-de-seda e acumulam compostos tóxicos que afastam predadores.

⚠️No entanto, a quantidade dessas toxinas costuma ser MUITO PEQUENA a para representar um risco grave à saúde humana, especialmente por meio de uma injeção acidental.

“As borboletas têm uma biologia complexa, e os fluidos presentes em seus corpos não foram estudados de forma aprofundada quanto à toxicidade para seres humanos”, explica o professor Marcelo Duarte, diretor do Museu de Zoologia da USP e especialista em borboletas e mariposas (lepidoptera).

Por isso, o grande problema aqui é o fato de que a introdução de qualquer líquido não estéril (sem tratamento adequado para o uso no corpo humano) pode causar infecções graves, especialmente quando há contato com a corrente sanguínea.

“Ao injetar uma substância desconhecida, a pessoa corre o risco de ter reações alérgicas severas, infecções e, em alguns casos, complicações fatais”, complementa Duarte.

Um borboleta-monarca. — Foto: Rudimar Cipriani
Um borboleta-monarca. — Foto: Rudimar Cipriani

O professor acrescenta ainda que os insetos desempenham funções fundamentais no equilíbrio ambiental, especialmente na polinização e na cadeia alimentar, mas o contato direto com seus fluidos internos pode ser perigoso.

“A situação é extremamente triste. Não consigo imaginar o que levou o rapaz a tentar algo assim”, afirma Duarte.

➡️ Por isso, André Victor Lucci Freitas, coordenador do Laboratório de Borboletas da Unicamp, acredita que a hipótese mais provável, diante das informações disponíveis, é que a morte tenha ocorrido devido a uma infecção causada pela injeção do líquido contaminado, e NÃO pela toxina do inseto.

“O primeiro ponto a considerar é se o inseto era realmente uma borboleta ou uma mariposa, já que essa distinção nem sempre é clara para quem não é especialista”, explica Freitas.

Ainda assim, o professor ressalta que, independentemente da espécie, a toxina presente em borboletas dificilmente causaria um quadro tão grave. Mesmo espécies conhecidas por substâncias tóxicas, como a borboleta-monarca, provocam reações leves, como vômito em predadores, e não a morte.

Borboletas não vivem apenas em flores. Muitas pousam em solos úmidos para absorver sais minerais de locais com urina, fezes e matéria orgânica em decomposição. Se esse material foi triturado e injetado, há grande chance de o organismo ter sido exposto a uma carga significativa de patógenos, levando a uma infecção generalizada.

— André Victor Lucci Freitas, coordenador do Laboratório de Borboletas da Unicamp.

Freitas destaca ainda que, ao injetar qualquer substância não esterilizada diretamente no músculo ou na corrente sanguínea, há o risco de contaminação grave.

“Nosso corpo possui barreiras naturais contra bactérias, vírus e protozoários na pele e no sistema digestivo. Mas, ao ultrapassar essas barreiras com uma injeção, esses microrganismos encontram um ambiente favorável para se espalhar rapidamente”, completa.

Entenda o caso

As autoridades de saúde da Bahia investigam o caso para esclarecer os detalhes que antecederam a morte do adolescente e as possíveis causas exatas do óbito.

Davi Nunes Moreira morreu na quarta-feira (12). O pai do adolescente percebeu que o filho mancava uma semana antes. Ao ser questionado, o garoto disse que tinha se machucado enquanto brincava. A Polícia Civil investiga o caso e aguarda o laudo da perícia para atestar a causa da morte.

O pai levou Davi a um hospital de Planalto, onde eles moravam, depois que o menino vomitou. Davi ficou sete dias internado lá e, depois, foi transferido para Vitória da Conquista.

Davi Moreira morreu após ser internado em cidade na Bahia. Ele contou que amassou uma borboleta e injetou na perna o líquido que saiu do inseto — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Davi Moreira morreu após ser internado em cidade na Bahia. Ele contou que amassou uma borboleta e injetou na perna o líquido que saiu do inseto — Foto: Reprodução/Redes Sociais

O pai da criança contou que antes de morrer, o menino revelou para a profissional que foi a uma farmácia, comprou a seringa, fez a substância e aplicou na perna. O garoto não explicou que borboleta ele amassou.

Após a morte do filho, quando foi arrumar a casa, o pai do adolescente encontrou a seringa citada pelo menino embaixo do travesseiro. O velório e enterro de Davi aconteceu na sexta-feira (16).

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