À frente dos nomes que compõem o elenco de “Terra e Paixão”, Bárbara Reis fala sobre os desafios que se interpõem a uma atriz que interpreta o papel principal de uma novela: “A jornada é muito desafiadora mesmo”, diz. Bárbara é uma das poucas personagens pretas protagonizando uma novela das 21h. De imediato, poderíamos falar de outros dois casos: A Helena (Tais Araujo) de “Viver a Vida” e a Regina (Camila Pitanga) em “Babilônia”. Bárbara relata que, atualmente, seu sonho “é seguir trabalhando”. Além da trama, ou por conta dela, a artista foi escolhida a ser embaixadora da Scala, marca de lingerie. Ela celebra o fato de haver hoje o pensamento no conforto e empoderamento da mulher e não no desejo do público masculino, como dedicava-se o mercado no passado: “O foco deve ser A mulher e o conforto, isso aliado a segurança que uma peça lhe pode lhe proporcionar”
A novela “Terra e Paixão” tem mobilizado o público com suas reviravoltas, especialmente agora que já passou da metade. Personagens entraram, outros saíram, e não sem justiça, a trama das 21h tem recebido a alcunha de novela-ônibus. Cogita-se que o próximo a fazer uma participação especial seja Lima Duarte. Porém, entre tantos nomes, um é permanente e conduz a narrativa da trama: Bárbara Reis. A protagonista do folhetim das 21h conseguiu uma brecha nas intensas gravações e, em entrevista exclusiva, falou sobre os desafios em viver uma personagem principal – tanto em face do volume de trabalho, como pelas cobranças e pela representatividade. “A cobrança é muito mais minha do que externa. Quero entregar um trabalho de muita qualidade, então tudo que é importante paro meu crescimento, tudo que agrega, eu não abro mão”. Entre tantos artistas pretos, nem todos acabam recebendo o merecido destaque e/ou acabam sendo ofuscados por seus pares brancos. Para Bárbara isto justifica-se por uma “estrutura racista no país”.
Maior das coincidências, dois dos últimos trabalhos relevantes da atriz estão sendo levados ao ar. Além de “Terra”, “Todas as Flores” estão sendo transmitidas pela Globo, e na sequência uma da outra. “Consegui construir duas personagens totalmente distintas, onde uma não lembra em nada a outra. Eu gosto dessa confusão nas ruas, sempre me chamam pelo nome de ambas as personagens”.
A beleza de Bárbara tem chamado atenção do mercado publicitário e a atriz fala da sua relação com a moda: “Sou libriana, então é natural buscar uma harmonia de cores e estilo para compor meu estilo. Eu sempre opto pelo conforto, já que minha vida é bastante corrida. Prefiro roupas que me deixem pronta pra qualquer ocasião. Ela foi escolhida como embaixadora da Scala, que “abrange todos os biotipos da mulher, sem nos colocar em um único padrão”, frisa. Hoje, o mercado da moda íntima pensa mais em aliar conforto e beleza para a mulher em vez de atender ao desejo masculino, como eram as campanhas no passado. Bárbara diz que, neste aspecto, “o foco deve ser A mulher e o conforto, isso aliado à segurança que uma peça pode lhe proporcionar. Não o contrário. As mulheres se empoderaram para si, não para o outro. E o mercado acabou entendendo esse movimento”.
Contemporaneamente tem se discutido o espaço e o lugar conferido a artistas pretas nas artes quando comparado a artistas brancos. A disco-diva Lady Zu, ainda que seja compreendida como uma das maiores representantes da disco music, costuma ser ofuscada pelas Frenéticas, grupo musical majoritariamente composto por mulheres brancas. Um grande nome da Bossa Nova, Johnny Alf (1929-2010), ou ainda Alaíde Costa, não são tão lembrados como Tom Jobim (1927-1994) e João Gilberto (1931-2019). Para a atriz, essa invisibilidade do artista preto no Brasil se deve “à estrutura racista que existe no país e do pacto da branquitude. Hoje esse cenário está em mudando com a constante exaltação da cultura negra e dos artistas negros, não só na música como no audiovisual. Tanto que no grupo “As Frenéticas” não conseguiram apagar o brilho de Dhu Morais e de Edyr de Castro (1946-2019), que seguiram carreira no audiovisual”.
QUANTOS SEGREDOS TRAZ O CORAÇÃO DE UMA MULHER?
O trecho do tema de abertura de “Terra e Paixão” é revelador. Não apenas quando fala da sua trama, na qual as mulheres, e especialmente elas, trazem os segredos que conduzem a novela. E é voz geral que uma personagem líder, como a de Bárbara, é a que tem maior volume de textos e cenas a fazer, e, também, é a mais cobrada junto ao público telespectador. Sobre o assunto, Bárbara diz que “a jornada do protagonista é muito desafiadora mesmo. A cada dia há uma emoção diferente, e isso me motiva, já que não gosto de mesmices. No início foi difícil conciliar, decorar textos, com rotina de trabalho, dar atenção pra minha família e continuar estudando pro dia seguinte. Mas tudo se torna hábito, e quando estamos motivadas por algo, tudo flui”.
Por mais que seja jovem, Bárbara pegou o período de transição onde não havia cosméticos tanto para pele como para cabelos de pessoas pretas. O mercado demorou para atender a esse público. Como a atriz percebe a evolução nesse sentido? “No dia a dia, na gôndola de produtos pra cabelo, de maquiagem, hoje há linhas exclusivíssimas pra nós. Conseguimos escolher pra usar tanto na pele quanto meus fios. O mercado evoluiu muito nesse sentido. Era frustrante não encontrar um creme de pentear, ou um pó translúcido que atendesse às necessidades da pele negra”.
Ainda que esteja realizando um grande sonho, que é o de protagonizar uma novela, Bárbara diz que seus sonhos não são finitos. Não há um único, mas um continuum: “Penso em continuidade, meu sonho é seguir trabalhando, fazendo o que amo e podemos colocar e com isso continuar conquistando cada vez mais a minha estabilidade financeira”.